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Posts Tagged ‘Morte’

O caso do assassinato, ontem, de 12 crianças em escola no RJ bem poderia servir para se discutir, além da segurança nas escolas, um outro tema também relevante: a saúde mental.

É tímida a forma, para não dizer desqualificada, como autoridades e imprensa discutem uma situação como essa. A imensa maioria das vozes que ouvi durante o dia de ontem vão todas no sentido de controle de armas, segurança nas escolas etc., e, quando se faz alguma referência à loucura é para situar o assassino em um campo tão estranho, tão diferente da normalidade, que o transforma em um ser absolutamente diferente de todos nós.

Ou seja, a loucura ainda pertence a um campo do “estranho”, mas um estranho que parece estar distante de todos nós. É uma pena, portanto, que não se discuta o tema e como a sociedade lida com ele.

Wellington Oliveira, o assassino, atuou seguindo um ritual. Um ritual típico dos assassinos-suicidas. Aqueles que já morreram a algum tempo, mas cujos conflitos internos, tão intensos, não os permitem descansar.

Wellington deveria ter seus conflitos. Não à toa deve ter escolhido a escola onde estudou, não à toa escolheu crianças naquela faixa de idade, não à toa selecionou muito mais meninas para a morte. Ele deixou muitas pistas sobre seus intensos conflitos internos. Falou de “impureza” e pediu por um perdão através de orações.

Talvez, em seu ritual, tenha fantasiado a possibilidade de uma união com Deus através de um perdão alcançado por uma ação de “limpeza”. Matar as crianças, especialmente as meninas poderia fazer parte de seu plano para obter esse perdão. Perdão por suas próprias “culpas”, nesse caso, praticamente ligadas à questão da masturbação.

Naquele momento, no mesmo instante em que assassinava, Wellington era uma criança de 12 ou 13 anos, estudava naquela escola, talvez mesmo naquela sala e se vingava daquelas meninas por quem deveria sentir desejos. Desejos que reprimia ou que não realizava, mas que se tornaram fontes de intenso conflito interno.

Talvez essa história ainda vá mais longe ainda, mais atrás. Sua mãe biológica era esquizofrênica, era um filho adotado que perdeu a mãe adotiva a muito pouco tempo. O que sobrou de sua identidade? Certamente Wellington não terá seus últimos desejos realizados. Nem será objeto de um ritual de limpeza nem obterá o perdão por seus atos passados. Sobrará um Wellington assassino de crianças, um maníaco, um assassino, um louco.

Seus conflitos internos se tornaram tão intensos que ele não resistiu. Milhares estão passando por isso nesse mesmo instante. Milhares de famílias não sabem como lidar com essa questão, e qual a posição do setor público para essa questão? Por que a loucura não é um tema relevante de debate?

Enquanto a sociedade insistir em reservar à loucura um lugar tão distante de nós mesmos só restará tratar esses casos dessa forma, como se tudo se resolvesse com mais segurança em escolas. Ninguém fala na necessária segurança mental. Essa sim está ainda bem mais desguarnecida, e produzindo dezenas, centenas de Wellingtons a cada dia.

É um exemplo para invertermos uma lógica de pensamento bem própria à sociedade. Diante de tragédias assim sempre pensamos e nos dizem: “quem será a próxima vítima?”. Nesse caso, talvez fosse melhor indagar: “Quem será o próximo Wellington, eu, você, nosso vizinho?”.

Que fique bem claro. Não o estou vitimizando. Ele tornou-se um assassino, mas, antes, já estava morto. Mas, voltamos, à velha questão, como discutir saúde mental numa sociedade que se quer perfeita e produtora de sonhos e fantasias? A questão é bem mais complicada que simplesmente controle de armas e segurança nas escolas. Tudo isso é necessário, mas insuficiente.

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José Alencar

A morte de José Alencar é daqueles episódios, cada vez mais raros, que têm a capacidade de unir, agregar. Nem tanto pela sua vida política, mas pela sua postura, principalmente diante da morte. Um momento sempre dramático, mas que ele teve a grande chance de uma longa despedida e, mais que isso, de tranquilizar aqueles que ele deixava. Sim, porque a morte, muitas vezes é mais dolorida para os que ficam e permanecem distantes dela. Sobra o enigma, o desconhecido e isso, quase sempre, atormenta.

Mas Alencar deixou um belo recado: não temo a morte porque não a conheço. Uma bela frase e que exige que se pense muito a respeito dela. Afinal, por que temer aquilo que desconhecemos? Muito provocador e, ao mesmo tempo, muito simples. Pensar sobre a morte é algo que devemos fazer mais…até para chegar a momentos de lucidez como estes que ele nos proporcionou nestes últimos momentos em convivência.

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(filme) “A Passagem” e o instante final.

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