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Posts Tagged ‘Palestra de Lula’

Lula acabou de inaugurar sua nova vida, pelo menos enquanto as eleições de 2014 não chegam. Aderiu às palestras. Mas começou de forma bem interessante. Com uma palestra “motivacional” para funcionários e diretores de uma empresa de eletrônicos. Não sei se esse vai ser o tom de suas palestras daqui pra frente, mas é no mínimo curioso para um estadista que ficou 8 anos à frente do poder em um país que, segundo ele mesmo, cresceu e mudou, como nunca antes na história.

Não tenho nada contra essas palestras, mas não sei se é realmente isso que eu esperava dele nesse momento. Talvez eu esteja sendo exigente, afinal de contas talvez ele não se saísse bem mesmo no papel de um debatedor de conjuntura nacional ou internacional. O que foi mesmo o seu comportamento no governo? Lula nunca foi um debatedor, sempre preferiu um outro papel, o de árbitro, o de animador, o de alguém que resolve qualquer contenda com uma piada, ou melhor, escapa à contenda.

Segundo jornalistas, a imprensa só teria tido acesso aos momentos iniciais da palestra de 40 minutos. Então talvez eu esteja equivocado em minha avaliação. Ou não! Talvez o restante da palestra tenha sido apenas uma continuidade de seus momentos iniciais. O fato é que Lula se comportou exatamente como quando no governo, ou seja, recusava-se a falar de política, só dos feitos e de como tudo parece tão simples. Um exemplo desta simplicidade de pensamento está numa das frases trazidas pela imprensa, e que fez parte da palestra, quando comentou sobre a eletrificação rural: “Você está trazendo a pessoa do século 18 para o século 21. Está tirando do candeeiro para ela comprar uma TV de três dimensões aqui!” Da mesma forma disse: “logo a classe C se transforma em B”. De fato, Lula trabalha bem com a “esperança”, e nada melhor para um palestrante motivacional. Ele foi assim no governo, um presidente que sempre buscava um elemento simples da realidade. Isso parece muito louvável e quisera tudo fosse realmente assim, tão simples. Mas, o fato é que, enquanto fazia leituras simplistas da realidade, essa mesma realidade traçava seus caminhos de formas diversas, nem sempre tão simplistas.

É inegável a semelhança do Lula palestrante com o Lula presidente. Adepto dos modismos de última hora, e dos clichês, adaptou-se bem aos interesses da empresa que lhe financiou a palestra e disse: “Precisamos trabalhar muito para criar milhões de famílias smart neste país”, disse. Um pouco antes da frase, Lula teria assistido a uma encenação onde o ponto central era o vício em tecnologia. Também disse que sempre fez a “apologia do consumo” em seu governo. Talvez ele sempre tenha falado isso pensando nas famílias que quase nada consomem, mas e as consequências de uma fala assim? Que tipo de cidadão resulta de uma emancipação plenamente depositada na compra de produtos? É um cidadão privado, algo que está homogeneizando nossa sociedade.

Lula, como ex-presidente não pode, simplesmente, se tornar um garoto-propaganda de empresas privadas. Mas, o drama é que ele foi assim em seu governo. Foi o momento mesmo de consolidação do capitalismo recente. Nada contra, mas o custo foi a política., o abandono da esfera pública, das discussões, e logo com ele, que antes fazia a apologia da democracia. Talvez o seu ímpeto transformista seja esse mesmo, o do consumismo, o da integração plena ao mercado, e o do abandono da política, a não ser que ela só passe a significar um grande “auditório”.

As palestras de Lula seriam uma boa oportunidade para ele passar a discutir a política com “P” maiúsculo, ou para resgatá-la dos limites impostos pelo mercado. É esperar pra ver. Talvez eu esteja sendo chato, mas ainda confio no espaço público de discussão. Mas, se podemos ser esperançosos, não podemos tirar os pés da realidade, pois Lula se elegeu em 2006 e elegeu Dilma em 2010 falando na expansão do consumo das classes mais populares. Quer um garoto-propagando melhor que esse? Afinal, todo o mercado está de olho no consumo dessa classe, e quem a “criou”? Vai ser difícil ele abandonar esse papel. Mas, é compreensível.

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